“Não
sou deste mundo”, disse o poeta no leito de morte
“Nada
tenho contigo”, disse o judeu ao contrapeso divino
E eu?
De onde vim? Com quem terei nessa vida?
Anacrônico, alienígena, alternativo,
psicopata?
Pleidiano,
italiano, ateu, anarquista, alienista?
Devo
ver a vida como quem vê o velho com a cabeça encoberta por um lençol?
Sem
cruz, sem praça, sem discípulos, sem terceiro dia?
Os
jovens não me têm para messias
E a
autocomiseração talvez seja, até o fim, a mais fiel companhia.
“Não
sou eu”, é o melhor a se dizer
Só me
penso, me amalgamo a idiossincrasias alheias
O que
já me confere relativa sincronia
Pois
a tentativa é livre
A largada
foi dada
Mas a
pista está interrompida
Vão à
frente dezenas de cristos
Levando
cravos e cruzes
Mais
atrás vão Madalenas seminuas
No
vácuo dos santos endemoninhados
E em
terceira via uma multidão de miseráveis evangelizados
Munidos
de talões de cheques e cartões de crédito
Empurrando
um grupo de cegos, surdos, mudos
Que
não pagam o cristo
Não
fodem Madalenas
Não
ouvem propaganda
Por
último os esquecidos, os não publicados
Em
fúria, vão de encontro à degeneração das células:
A
evanescência da linguagem
“Não
sou deste mundo”
Nessa
carreira, desde a largada, resignei-me a mais distante posição
O
fundo
De
onde posso ver, sem o auxílio das escrituras
O
momento em que o rebanho
Evacua
arrogância, burguesismos e idolatrias
E
cobre seus dejetos
Com
as areias irrepreensíveis do tempo.
E num
cenário de montanhas de lodo e cruzes de ouro
Somos
todos
Idólatras
De
nós mesmos
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