sábado, 18 de maio de 2013

Idólatras



“Não sou deste mundo”, disse o poeta no leito de morte
“Nada tenho contigo”, disse o judeu ao contrapeso divino
E eu? De onde vim? Com quem terei nessa vida?
 Anacrônico, alienígena, alternativo, psicopata?
Pleidiano, italiano, ateu, anarquista, alienista?
Devo ver a vida como quem vê o velho com a cabeça encoberta por um lençol?
Sem cruz, sem praça, sem discípulos, sem terceiro dia?
Os jovens não me têm para messias
E a autocomiseração talvez seja, até o fim, a mais fiel companhia.

“Não sou eu”, é o melhor a se dizer
Só me penso, me amalgamo a idiossincrasias alheias
O que já me confere relativa sincronia

Pois a tentativa é livre
A largada foi dada
Mas a pista está interrompida

Vão à frente dezenas de cristos
Levando cravos e cruzes

Mais atrás vão Madalenas seminuas
No vácuo dos santos endemoninhados

E em terceira via uma multidão de miseráveis evangelizados
Munidos de talões de cheques e cartões de crédito
Empurrando um grupo de cegos, surdos, mudos
Que não pagam o cristo
Não fodem Madalenas
Não ouvem propaganda

Por último os esquecidos, os não publicados
Em fúria, vão de encontro à degeneração das células:
A evanescência da linguagem

“Não sou deste mundo”
Nessa carreira, desde a largada, resignei-me a mais distante posição
O fundo
De onde posso ver, sem o auxílio das escrituras
O momento em que o rebanho
Evacua arrogância, burguesismos e idolatrias
E cobre seus dejetos
Com as areias irrepreensíveis do tempo.

E num cenário de montanhas de lodo e cruzes de ouro
Somos todos
Idólatras
De nós mesmos

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