domingo, 19 de maio de 2013

Dualidade Cotidiana

Não adianta fugir da Natureza,
em tudo existe a dualidade,
a pureza e a impureza,
a pobreza e a riqueza
a mentira e a verdade.

Não dá pra tapar o Sol com a peneira
tentar disfarçar e dizer que não há,
fechar os olhos de tal maneira,
tirar a coisa do lugar que está,
abra a sua cabeça e comece a pensar.

A novela te aliena,
desvia o teu olhar,
de ti eu sinto pena
por te impedirem de pensar,
falam uma série de mentira e tu começa a acreditar!

É tudo cinza mas te disseram que não é,
te ensinaram que é Coca ou Leite,
preto ou branco,
Xuxa ou Pelé,
o Ying e Yang é verdadeiro e não questão de fé!


Por: Thiago Devos

sábado, 18 de maio de 2013

Rocha lamentosa



Vivo sem vaidade

Meu andar é demasiado frouxo

Carrego as preocupações comuns aos homens

Apenas para composição do personagem



Tenho mais sonhos que realidades

E não me sofro por amenidades

Viveria de amor

Se o mesmo não me cobrasse

A imersão no cotidiano

E os trajetos das cidades



Viveria de poesia

Se a mesma não escapasse entre os dedos

De tempos em tempos



Vivo como rocha à beira mar

Fugaz rocha contemporânea 

Cumpro meu destino vão

De rocha vaidosa

Onde Jeremias assenta seu rabo santo

E lamenta

Nosso engano

Idólatras



“Não sou deste mundo”, disse o poeta no leito de morte
“Nada tenho contigo”, disse o judeu ao contrapeso divino
E eu? De onde vim? Com quem terei nessa vida?
 Anacrônico, alienígena, alternativo, psicopata?
Pleidiano, italiano, ateu, anarquista, alienista?
Devo ver a vida como quem vê o velho com a cabeça encoberta por um lençol?
Sem cruz, sem praça, sem discípulos, sem terceiro dia?
Os jovens não me têm para messias
E a autocomiseração talvez seja, até o fim, a mais fiel companhia.

“Não sou eu”, é o melhor a se dizer
Só me penso, me amalgamo a idiossincrasias alheias
O que já me confere relativa sincronia

Pois a tentativa é livre
A largada foi dada
Mas a pista está interrompida

Vão à frente dezenas de cristos
Levando cravos e cruzes

Mais atrás vão Madalenas seminuas
No vácuo dos santos endemoninhados

E em terceira via uma multidão de miseráveis evangelizados
Munidos de talões de cheques e cartões de crédito
Empurrando um grupo de cegos, surdos, mudos
Que não pagam o cristo
Não fodem Madalenas
Não ouvem propaganda

Por último os esquecidos, os não publicados
Em fúria, vão de encontro à degeneração das células:
A evanescência da linguagem

“Não sou deste mundo”
Nessa carreira, desde a largada, resignei-me a mais distante posição
O fundo
De onde posso ver, sem o auxílio das escrituras
O momento em que o rebanho
Evacua arrogância, burguesismos e idolatrias
E cobre seus dejetos
Com as areias irrepreensíveis do tempo.

E num cenário de montanhas de lodo e cruzes de ouro
Somos todos
Idólatras
De nós mesmos

terça-feira, 14 de maio de 2013

Piça no cú e tapa nos beiços



Que a poesia vá para o inferno
Que o que sobrara dos meus escrúpulos também
Cansei de tentar construir

Agora é palavrão
Agora é barraco
Agora é favela

Tchu tchutcha!

Agora “é o que o povo gosta”

Tchu tchutcha!

Agora é mandar
Você
 A puta que te pariu
Sem rodeios
Porque metáfora saiu de moda

Tchu Tchutcha!

Piça no cu
E tapa nos beiços

As pragas do mundo




Convivo com algumas pragas
Tão presentes
Que me sinto um prisioneiro
Pra qualquer lugar que eu vá
Sempre haverá
Um torcedor de futebol
Um ouvinte de forró
Uma garotinha
Novinha
Rebolando o traseiro
Ao som de axé music
                      hip hop americano
                      happy rock
Ou um membro da Igreja Universal
Pregando
O desapego material
Ou um africanista
Batendo tambor
Em um ritual primitivo
Ou pior
Um católico ignorante
Adorador de imagens
De joelho ralado
E terço na mão

Não há escapatória
Eles estão em toda parte
Nos banheiros das rodoviárias
             das praças
             dos aeroportos
No rádio
Na televisão
Demonstrando sua fé
Rebolando suas bundas
Fazendo gol de placa
Hipnotizando
A massa
Arrecadando o dinheiro alheio
Limpando nossas contas bancárias

E ninguém se importa
Se a garotinha anoréxica morreu
Tentando parecer a Beyoncé
Ninguém se importa
Se o bispo anda de carro importado
E os fiéis de carroça
Ninguém se importa
E muitos acham bonito
O garoto pobre que ganhou o mundo
Através da bola
E depois jogou a namorada
Para os cachorros

Ninguém se importa

Talvez eu
Que escrevo esse poema
Para depois ser jogado
Como herege
Na fogueira

Por mim
Que se foda
Você sabe muito bem
Que pediu por isso

Então não me culpe
Por jogar no ventilador
O produto
Da sua existência patética
Pois enquanto permaneço trancado
No meu quarto escuro
Você aproveita a vida
E comemora a vitória do seu time
E dança a dancinha do acasalamento
E dá seu dinheiro para o Bispo Macedo
E vê sua garotinha de dois aninhos
Balançar a fraudinha
Até o chão

Não me culpe
Por esse poema

Culpe a si mesmo.